Na onda do K-pop: como a Hallyu fez do Brasil o terceiro maior consumidor de K-dramas na pandemia

O GLOBO

Na onda do K-pop: como a Hallyu fez do Brasil o terceiro maior consumidor de K-dramas na pandemia

Pesquisa realizada entre setembro e novembro de 2020 indica que os brasileiros passaram a assistir mais séries sul-coreanas em comparação com período antes da Covid-19

By Louise Queiroga / JULY 10, 2021

RIO — Na medida em que o K-pop ganha espaço no Ocidente, também cresce o alcance da Hallyu, como é chamada a onda cultural sul-coreana, estimulada tanto por grandes empresas do entretenimento quanto pelo governo. Mas além da música, a influência da Coreia do Sul também aparece em outras áreas, como gastronomia, tecnologia da informação, moda e beleza, cinema e, algo bastante comum na era do streaming: séries, normalmente chamadas de doramas quando são produzidas em países do leste-asiático.

— A cultura idol é parte inerente e essencial do que forma o K-pop hoje e acredito que majoritariamente continuará sendo no futuro, pelo menos à curto e médio prazo — afirma Daniela Mazur, especialista em estudos coreanos e dramas de TV e doutoranda do Programa de Pós-graduação em comunicação da Universidade Federal Fluminense (PPGCOM/UFF). — São pessoas que dão forma e rosto ao K-pop e é isso, junto dos seus talentos e experiências pessoais, que atrai interesse por todo o mundo.


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Mais especificamente nesse caso, os K-dramas, em referência aos seriados da Coreia do Sul, vêm aumentando o interesse de brasileiros nas plataformas de streaming. No país, o conteúdo é variado e pode ser encontrado em aplicativos como Netflix, Viki e Kocowa (termo para Korean Content Wave, isto é, Onda de Conteúdo Coreano).

Uma pesquisa do Ministério da Cultura, Esportes e Turismo, realizada em 18 países pela Fundação Coreana para Intercâmbio Cultural Internacional entre setembro e novembro de 2020, mostrou o Brasil como o terceiro local onde mais cresceu a audiência pelos doramas coreanos, em comparação com o período anterior à pandemia. Em primeiro lugar ficou a Malásia e, em segundo, a Tailândia. Depois do Brasil, aparecem os Emirados Árabes Unidos e Taiwan.

Foram entrevistados 8,5 mil homens e mulheres de 15 a 59 anos que moram nos seguintes países: China, Japão, Taiwan, Tailândia, Indonésia, Malásia, Índia e Vietnã, Austrália, EUA, Brasil, Argentina, França, Reino Unido, Rússia, Turquia, Emirados Árabes Unidos e África do Sul.

 

Romance, séries com idols e fantasia

Um levantamento realizado pelo Viki a pedido do GLOBO, revela que usuários no Brasil são majoritariamente do sexo feminino (77%) com idades entre 13 e 18 anos (53%). Por mês, a plataforma, que é gratuita, mas oferece assinatura premium como opção para evitar propagandas e acessar doramas exclusivos, contabiliza no país acessos por mais de 1 milhão de espectadores.

Considerando as transmissões realizadas nos últimos seis meses, os três gêneros que mais se destacaram foram: comédia romântica, séries estreladas por idols (termo usado para se referir aos membros de grupos de K-pop) e fantasia. Quanto ao segundo item da lista, vale destacar que, seja durante as atividades na indústria musical ou após seu encerramento, muitos cantores ingressam no campo da atuação.

— Artistas de K-pop, também conhecidos como “idols”, não são distantes do cenário de atuação quando se trata de K-dramas, e isso definitivamente atrai o público brasileiro. Na maioria das vezes, você verá vários cantores estreando como ator, sempre trazendo sua enorme fanbase com eles para aumentar os números de audiência — afirmou Edgard Elizarraras, especialista em marketing digital.

Para citar alguns, há os idols Jinyoung, do GOT7; Siwon, do Super Junior, Suzy, que integrou o Miss A; e Kystal, que foi membro do f(x). Além disso, uma das estreias mais aguardadas é o dorama “Snowdrop”, em que a cantora Jisoo, do Blackpink, fará o papel da protagonista, contracenando com o astro Jung Hae-in. Embora não haja uma data oficialmente marcada para ir ao ar, a expectativa é que a série seja exibida ainda neste ano.

— Por exemplo, “Hwarang: The Poet Warrior Youth” está no Top 5 K-dramas do público brasileiro desde que chegamos ao Brasil em 2019 porque o V, do BTS, é um personagem coadjuvante. O papel principal de Rowoon, do SF9, em “Extra-ordinary You”, também contribuiu para as repetidas visualizações e posição de destaque na programação do Brasil — disse Justine McKay, do líder do departamento de marketing da Kocowa.

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Considerando a totalidade de doramas disponíveis no Viki, incluindo as produções de outros países do leste-asiático, a empresa Rakuten — baseada nos EUA com escritórios em Cingapura, Japão e Coreia do Sul — informou as 10 séries mais assistidas no Brasil, também nos últimos seis meses, sendo sete sul-coreanas e três chinesas. Confira:

Visualizações crescem no Brasil em 53%

Em comparação com os dados demográficos obtidos pela Viki, são semelhantes as informações disponibilizadas pela plataforma Kocowa, também sediada nos EUA, com escritórios no Brasil e na Coreia do Sul. Seu público global (habitante das Américas do Norte, Central e do Sul) é 85% feminino, 15% masculino, e composto em 90% por pessoas de origem não coreana, e 70% não asiática. Além disso, 86% dos usuários têm menos de 44 anos. O acesso também é oferecido no modo gratuito, com opções de assinaturas pagas.

Dos 2,2 milhões de usuários cadastrados, 26% têm registro do Brasil, onde a Kocowa começou suas atividades em agosto de 2019. As dez cidades que mais consomem seu conteúdo são: São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Brasília, Manaus, Curitiba, Belo Horizonte, Recife, Belém e Campinas. A pedido do GLOBO, um levantamento da Kocowa revelou aumento expressivo nas visualizações registradas no Brasil. De 2020 para 2021, o crescimento foi de 53%.

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Diferentemente dos demais serviços de streaming, o Kocowa é focado nos K-dramas por ser uma companhia da Korea Content Platform, Inc. (KCP), que une as emissoras sul-coreanas KBS, MBC e SBS. Por isso, o conteúdo oferecido inclui reality shows e programas de K-pop, além de a lista das 10 séries mais assistidas ser composta apenas por produções audiovisuais da Coreia do Sul. Veja:

 

Top-5 na Kocowa:

1. Extra-ordinary You, baseado em webtoon (HQ para web) homônimo

2. Weightlifting Fairy, Kim Bok-joo

3. Hwarang: The Poet Warrior Youth

4. I Am Not a Robot

5. Tempted

Os mais queridos no Brasil em 2020

Relatório do governo sul-coreano indica os três K-dramas mais queridinhos pelos brasileiros em 2020.

Em primeiro lugar, a mais citada pelos entrevistados na pesquisa do governo sul-coreano foi “Kingdom”, um dorama de época marcado por ação, terror e zumbis, que se passa na Dinastia Joseon e traz no elenco Ji-hoon Ju, Ryu Seung-Ryong, Doona Bae.

Em segundo, despontou “Tudo bem não ser normal”, que conta a emocionante história da relação entre os irmãos interpretados por Kim Soo-hyun e Kwak Dong-yeon e a escritora de livros infantis no papel da atriz Seo Ye-ji.

E, em terceiro, apareceu “O rei eterno”, uma aventura romântica com suspense estrelada por Lee Min-ho e Kim Go-eun. Todas as três estão disponíveis no Brasil pela Netflix.

Já no campo do cinema, “Parasita”, o vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2020, não surpreendeu ao ser o filme coreano mais visto pelos entrevistados brasileiros. Nas redes sociais, também é perceptível sua popularidade. Na última segunda-feira, dia 5, o longa dirigido por Bong Joon-ho foi transmitido pelo “Tela Quente” da TV Globo, marcando a primeira exibição na TV aberta brasileira. Com isso, o título da obra foi para o topo dos assuntos mais comentados no Twitter Brasil.

Os autores da pesquisa informaram que esta é a única enquete ofical com o objetivo de mensurar o alcance da Hallyu no exterior para identificar tendêndias nas percepções dos consumidores do conteúdo cultural sul-coreano por país. Eles explicam que a proposta é encontrar uma direção política preventiva para criar um ecossistema da Hallyu sustentável em um ambiente de mercado externo.

Imagem sobre a Coreia

A Embaixada da República da Coreia — que celebra as relações com o Brasil, neste fim de semana, com um festival transmitido em seu canal YouTube — estima que, no país, haja cerca de 200 grupos de cultura coreana que, juntos, reúnem aproximadamente 350 mil fãs apenas de K-pop.

Além disso, a primeira imagem que os brasileiros têm sobre a Coreia é mesmo o K-pop — antes, a tecnologia, como celular de ponta, aparecia em primeiro lugar. Entre os conteúdos mais consumidos estão também filmes coreanos (média de oito por mês, no caso de um fã da cultura coreana), e os K-dramas.

Esses foram alguns resultados obtidos numa pesquisa da Fundação Coreana para Intercâmbio Cultural Internacional. Moda, beleza, jogos virtuais e outros tipos de entretenimento também foram respondidas pelas pessoas.

Olhando para o fator de popularidade do K-pop com a maior taxa de resposta por país, aparecem Japão (41,9%), Brasil (36,0%) e Emirados Árabes Unidos (31,7%).

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